Assim como os forrozeiros tiveram de se adaptar ao cancelamento do São João em todas as cidades baianas, os amantes das festas de largo, Réveillon e até Carnaval precisam se acostumar com a ideia de ‘pular’ a próxima edição destes eventos, como medida de contenção do coronavírus.
O alerta é feito pelo virologista Gúbio Soares, do Instituto de Ciências da Saúde da Universidade Federal da Bahia, que foi o entrevistado desta sexta-feira, 22, do programa ‘Isso é Bahia’, da rádio A TARDE FM.
Em conversa com os apresentadores Jefferson Beltrão e Fernando Duarte, o especialista destacou que o coronavírus possui características diferentes dos outros vírus que já circularam no país e tem grande capacidade de sofrer mutações, o que dificulta ainda mais a produção de vacinas.
Gúbio Soares ressalta que, apesar dos esforços dos governos estadual e municipais, parte da população não tem contribuído com o combate à disseminação da Covid-19, uma vez que, segundo ele, apenas 59% das pessoas estão obedecendo as recomendações de isolamento social. Por isso, ele prevê que a pandemia se estenda até o mês de dezembro.
“Esse vírus vai continuar circulando na população mundial e no Brasil durante muito tempo. Se nós não adotarmos uma política de cuidados restritos, vai haver a ‘segunda onda’ no Brasil. Temos de deixar claro às pessoas: todo mundo, agora e durante meses, vai usar máscara, porque ele continua circulando na população”.
Sobre o retorno da programação cultural tão esperado pelos brasileiros, o virologista é enfático: “Vamos esquecer Réveillon, Carnaval, festas de largo e shows até 2021. No ano que vem, nós devemos passar o verão em isolamento, para podermos eliminar esse vírus em mais de 80% da população”, orienta.
# Vírus mutante
Um dos responsáveis por identificar o zika vírus no Brasil, Gúbio Soares explica que o coronavírus tem características diferentes em relação à propagação entre as pessoas.
“No mundo, ainda não se viu um vírus que causa uma gripe ou uma infecção respiratória dessa maneira, de atingir toda a humanidade. Ele sofreu mutações importantes quando saiu do morcego, passou para um animal intermediário – que provavelmente foi o pangolim – e, a partir daí, sofreu uma mutação importante e atingiu o homem. As pessoas têm que entender que, na China, há uma convivência muito grande com determinado número de animais silvestres. Eles capturam o pangolim, vendem em feiras de maneira clandestina e se alimentam dele”.
Segundo o especialista, essa facilidade do vírus de modificar o próprio sequenciamento genético é um obstáculo a ser enfrentado pela ciência, principalmente no que diz respeito à produção de vacinas.
“Já se sabe que há 11 mutações no vírus, e a tendência é que ele sofra outras. O perigo é fabricar uma vacina agora e não resolver o problema porque, em determinadas regiões do mundo, ele já sofreu tantas mutações que a vacina não vai ser eficiente”, conclui.
*Atarde